A equipe da Informar conversou com a enfermeira Lígia Coimbra, do Centro de Saúde da Família Maciel Brito. Em sua entrevista, Lígia faz críticas à gestão municipal e expõe os motivos da greve dos servidores de saúde. A equipe tentou fazer contato com a Secretaria de Administração Municipal (SAM), mas as perguntas não foram respondidas até a publicação da matéria.
Informar: Como profissional, qual o seu posicionamento em relação à greve? Você acha que poderia haver outras soluções?
Lígia Coimbra: Toda greve inicia-se após tentativas frustradas de negociação, é um processo lento e realizado com muito cuidado, ainda mais quando trata-se de parar o atendimento às necessidades básicas de saúde da população de Fortaleza, visto que a Estratégia Saúde da Família – ESF ou PSF- prevê uma solução de até 80% dos problemas de saúde da população.
Começamos este processo de tentar negociar com a gestão desde o início deste ano, ao qual não obtivemos uma contrapartida, várias reuniões foram agendadas anteriormente à greve e após verificarmos que não teríamos diálogo com a atual gestão, entramos em estado de greve no início de maio e logo em seguida em greve, na qual permanecemos há cerca de um mês. Nós profissionais da saúde estamos coesos e cientes de que a greve foi o último estágio na tentativa de diálogo para o cumprimento dos nossos direitos.
Informar: Na sua opinião, quais reivindicações deveriam receber prioridade?
L.C.: Acredito que na opinião de todos os colegas de Enfergem e Odontologia a reivindicação principal seria a melhoria das condições de trabalho. Esta é a pauta principal porque engloba tanto aos profissionais de saúde quanto à população. Como atender a estes citados 80% dos problemas de saúde, quando falta uma autoclave para esterilizar material para curativos simples? Como ter responsabilidade sanitária com determinado número de pessoas quando se tem somente uma cadeira para três odontólogos por turno?
Existem discrepâncias, tais como a gratificação por área de risco serem pagos 800 reais aos médicos e a outros profissionais “não-médicos” o valor ser de 400 reais. Acaso nossa vida vale metade da vida de um médico quando fazemos visitas domiciliares ou atendemos em bairros com baixo IDH? Nossas reivindicações não são para desvalorizar o trabalho dos profissionais médicos, posto que são membros da Equipe Saúde da Família, mas sim de tratamento isonômico por parte da gestão.
Informar: O que você espera melhorar na rotina dos pacientes e dos profissionais caso as reivindicações sejam atendidas?
L.C.: A visão inicial é de que profissionais bem pagos trabalham com mais vontade, mas isso é apenas uma visão inicial. A questão é bem mais ampla e vai além disso. Trabalho há mais de 5 anos em uma sala que sequer tem ventilador, ouço muitos pacientes perguntarem :” -Dra. como é que a senhora aguenta??” Também nos perguntamos há anos como a população aguenta ser desrespeitada do modo que é. Da falta de materiais básicos, da demora de serviços urgentes para a vida dessas pessoas, de uma fila de espera que é um martírio para alguns. Gostaríamos de que as reivindicações fossem além do visível, do mercadológico, pois gente não é mercadoria, são vidas ouvindo um “desculpe,não temos, não podemos não conseguimos...” É direito de todos, tanto do profissional quando do usuário, ter suas necessidades respeitadas como ser humano, como cidadão da cidade de Fortaleza.
Informar: Você acha que a Prefeitura está dando a devida atenção para a manifestação da categoria (saúde)?
L.C.: Após um mês de greve sofremos desde retaliações morais, quer seja por parte da retirada da escada de plantões de fim de semana e terceiro turno dos profissionais que aderiram à greve, e também físicas, em manifestação na SAM na qual estive presente pude presenciar desde portões fechados com cadeados e spray de pimenta por parte da guarda municipal. Estamos desde o início em uma tentativa frustrada de iniciar um diálogo com a gestão, é uma manifestação pacífica e também não paramos o atendimento emergencial à população, estando sempre um profissional no posto para atendimento de casos suspeitos de dengue e de risco iminente de vida.
A atual gestão escora-se em pilares como a terceirização e o não cumprimento dos direitos dos trabalhadores concursados garantidos por edital. Fica claro que os gestores da prefeitura municipal de Fortaleza há muito taparam os ouvidos à população e servidores. Mas nós continuaremos falando, porquê além de profissionais, também fazemos parte da parcela da população desassistida em seus direitos.
Links relacionados:
Expediente:
Texto: Camila Mont'Alverne.
Entrevista: Camila Mont'Alverne, Gabriela Custódio, Kelviane Lima e Thamires Oliveira.
Edição: Alissa Carvalho e Camila Mont'Alverne.
Muito boa a entrevista. É interessante ver também o lado do trabalhador.
ResponderExcluirRealmente é muto complicado profissionais da sáude entrar em greve, porque ninguém que esteja muito doente vai esperar a prefeitura resolver os problemas reivindicados. Mas, fica o questionamento de qual seria a outra forma desses profissionais reividicar por melhores condições de trabalho e serem ouvidos com atenção.
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